31.8.06

Regina Clara de Aguiar

UM OLHAR SOBRE OS MITOS - ORDEM E DESORDEM NA TRADIÇÃO ORAL

CLAUDE LÉVI - STRAUSS – NO LIVRO MINHAS PALAVRAS

Minhas Palavras, apresenta dentro do que Claude Lévi-Strauss chama curso de quarta-feira, o item - Ordem e desordem na tradição oral. Na verdade, trata da importância dos mitos na literatura oral, já que não deixa de ser um tema constante de releitura por meio de olhares de muitos autores. Acredito que se não fosse pela história oral que vem transmitindo de geração a geração, os feitos do homem, desde os mais primitivos elementos que se tem conhecimento hoje, como tecnologia, cultura imaterial de povos desaparecidos, etc, etc, etc, não teríamos, com certeza, todo o conjunto de conhecimento que faz parte da história das civilizações. Realmente, olhar dessa forma esse contexto dos mitos na nossa contemporaneidade, é muito instigante.

Faço o seguinte recorte do texto, “Tais como foram recolhidos em épocas e em condições muito diversas, os corpus mitológicos dos povos sem escrita se apresentam sob dois aspectos contrastados: ora como acúmulo de fragmentos disparatados, conservando cada qual a sua individualidade, ora como conjunto de relatos que se encadeiam, mas nos quais se encontram frequentemente os mitos ou os elementos de mitos que um povo vizinho conta como histórias separadas. Esses dois tipos constituem gêneros distintos da literatura oral ou devem ser considerados como etapas de uma evolução? E, nesse último caso, deve-se considerar a epopéia como anterior às formas fragmentárias nas quais ela se teria pouco a pouco decomposto? Ou, por um movimento inverso, poetas filósofos teriam fundido materiais originariamente dispersos, para lhes dar a forma de uma obra bem articulada?”. E como o texto foi construído a partir desse curso ministrado por Lévi-Strauss, no decorrer da leitura o autor propõe alguns elementos de resposta a essas questões.

O autor fala por exemplo, sobre as narrativas míticas, as qualifica, e também classifica, se refere a corpus em formação que chama de barroco, e compara com o também chamado de clássico, que agrupa os mitos publicados por Boas, entre 1895 e 1916, e por outro autor, Barbeau, um pouco mais tarde, recolhidos diretamente por esses autores ou com a assistência de colaboradores locais. No corpus “barroco” Lévi-Strauss relaciona algumas obras de Barbeau e mostra a importância deste, dentro de um contexto, onde remonta às fontes de inspiração indígena e às tradições orais.

Lévi-Strauss explica que a diferença entre os dois corpus, não decorre do maior ou menor papel que cabe a autóctones, cita a monumental obra de Boas e a obra menor de Barbeau, ambas produzidas com a colaboração de índios alfabetizados. E afirma que, em tais casos, “o colaborador executa as indicações do etnólogo; ele mesmo se torna etnólogo quando busca constituir uma coletânea tão completa quanto possível, na qual põe no mesmo plano as tradições de seu grupo familiar ou social e as obtidas junto a informantes que são membros de clãs diferentes”. O autor esclarece que os documentos são dispostos numa ordem que tenta ser objetiva. Assim, a obra de Boas e Tate começa pelos mitos cosmológicos, aos quais se seguem as aventuras do deus transformador e enganador, que continua e acaba a obra de criação. Em seguida diz que sao encontrados relatos relativos a casamentos excessivamente afastados quanto a outros tipos de relações que os indivíduos por vezes mantém com as forças sobrenaturais. Depois vem os mitos consagrados às relações políticas e coloca como posto seguinte, o xamanismo e as confrarias religiosas. Explica que quando se compara com a coletânea de Barbeau e Benyon, constata que suas versões dos mesmos mitos tendem a se agrupar segundo princípios que grosso modo, se assemelham aos já citados.

Em outro trecho o autor fala de quatro características em relação direta com o mito: A primeira seria a história se constrói pela arrumação de células narrativas amovíveis; em segundo lugar, a história é repetitiva; a terceira característica decorreria das duas anteriores e ainda que freqüentemente os eventos possam ser bastante parecidos, não são jamais idênticos, se referem a outros personagens e finalizando, a historia tende a assumir uma forma cíclica, termina com eventos de um tipo já contado, freqüentemente até mesmo no início do relato.

1 Comments:

Blogger Unknown said...

muito maravilhoso.que tu tenes en mente minha bla prima.

6:42 da manhã  

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